O que existe possui uma aura. Quando você toca um objeto ou vice-versa, há uma certa solidez, uma força, uma forma, estrangeira de você.
O algo que existe é, portanto, “alguma coisa” logo ali, estranha à você, que pode existir sem a sua necessidade.
Um homem das cavernas existiria para todos os outros animais e coisas além do homem.
Já o homem digital ele existe só para o homem. O que se sabe dele só se sabe a partir de objetos e percepções do homem.
Ele não possui aura, ele não é sólido, não possui força, não possui forma, ele só existe a partir da sua percepção de humano.
Este é o novo homem. Fruto do capitalismo. Ainda existem homens da caverna que filmam e se tornam imagens. Um dia, nenhum homem precisará gravar um vídeo sequer. As máquinas através das imagens o farão.
E nós ?
Provavelmente, como não seremos necessários, não precisaremos existir.
Nós mesmos repetimos a subjetividade do homem digital – o que nós somos senão meros aparelhos de transmissão ?
A máquina biológica, sem coração, sem alma, sem rosto. A máquina de Kant – movidos pela razão e pela lógica – todos aptos em sua plena maioridade intelectual.
O que é humano deixou há muito tempo de ser vivo. O próprio homem é um produto a ser vendido, negociado, comprado.
Já no século XIX o trabalho braçal do escravo era insuficiente – era necessário a força intelectual, consumidora e a força física para se tirar mais valia devidamente. O preto tinha muito menos a oferecer como escravo – como consumidor já era outra história.
Da mesma forma que se cria o escravo – se cria uma máquina biológica e um homem digital. Da mesma maneira que nenhuma doença é natural, porém, é biopolítica; Nenhum homem é natural, porém, é um animal político, portanto inserido na biopolítica.
Não existem cães não adestrados pelos homem – Como não existem homens além dos que são feitos por outros homens.
A era das máquinas chegou – e ela não precisa ser forjada em metal puro, basta marcar na carne o que se quer de cada animal.
Da vaca, ao alimento ao homem
Do cão, a companhia para o homem.
Do homem o valor para o capital.
Assim se disse.
Estudante da filosofia da UFSC. Leitora de Nietzsche, Voltaire, Byung Chul, com algumas leituras em Marx e Gorz. Ama escrever, desenhar e toca guitarra.
O homem existe para si, e tem a si apenas como imagem. O ápice é quando faz um filme sobre si mesmo.