Há quem persiga e seja perseguido por coisas. Um jovem estava com a seguinte frase na cabeça: “Paulo Freire foi ruim para a educação brasileira”. Ele procurou meu amigo Paulo Ghiraldelli para opinar sobre ela.
O jovem queria que o filósofo se tornasse autor daquela frase. Mas o filósofo já havia se tornado, há anos, autor de frases recomendatórias sobre Paulo Freire.
O jovem perseguia uma coisa, agiu como se algo pudesse se comportar conforme sua vontade. Mas se tem alguém que sai da condição de coisa é o filósofo.
Jesus é um personagem de muitas falas. No episódio em que visitou as irmãs Maria e Marta, a primeira permaneceu todo o tempo postada diante dele, enquanto Marta arrumava a casa. A interpretação tradicional diz que o importante estava sendo feito por Maria: ela aproveitava a presença do mestre.
Paulo Ghiraldelli, em seu livro “Para ler Sloterdijk”, traz a interpretação do Mestre Eckhart, para o episódio: Marta sabia estar com as coisas. Ela não perseguia as coisas, nem era perseguida por elas e então usava outras coisas para se esconder. Maria, enfim, é que estava perseguindo Jesus, querendo aparecer para ele. Certamente ela não escutava Jesus, o homem-fala.
Nossa cultura não apresenta nenhum ideal formativo para o homem. A formação é pensada como um caminho para se ter dinheiro e se fugir da falta de dinheiro; para se ter boa aparência e escapar da aparência ruim. Mas, quando se as alcança, não se sabe lidar com elas. Vive-se ansioso, em fuga e em busca.
Não se ensina o estar com as coisas, a dedicação a elas (eu diria, com Heidegger, escutar o ser). O jovem não sabe ler: pega um livro para fugir de outro. Não sabe escutar: de uma fala quer fugir, já clamando por outra.
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